27/08/2009

Frase /trancos/Caio Fernado de Abreu

Ando bem, mas um pouco aos trancos.
Costumo dizer, um dia de salto 7,
outro de sandália havaiana.

16/08/2009

Eu/ Fragemento/ Fernando Pessoa

Eu que me aguente comigo
e com os comigos de mim.
(Fernando Pessoa)

11/08/2009

História / Fragmento Caio Fernando de Abreu

"A história que está sendo contada, cada um a transforma em outra, na história que quiser. Escolha, entre todas elas, aquela que seu coração mais gostar, e persiga-a até o fim do mundo. Mesmo que ninguém compreenda, como se fosse um combate. Um bom combate, o melhor de todos, o único que vale a pena."

10/08/2009

Pensar / Frase / Clarice Lispector

"Não há dúvida:
Pensar me irrita,
pois antes de
começar a pensar,
eu sabia muito
bem o que eu sabia."

Podar flores/ frase/ Cecilia Meirelles

"Aprendi com a priimavera,
a deiixar-me cortar,
para voltar sempre inteira.."

09/08/2009

¨Ao Som de Suzane Vega¨- Caio Fernando De Abreu

Meu nome é Caio F.
Moro no segundo andar,
mas nunca encontrei você na escada.
"Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo.
Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia – eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.
Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar.
Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor.
E um grande silêncio desnecessário de palavras.
Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver.
Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como – eu estou aqui, eu te toco também.
Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão.
No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto – preciso de alguém para dividir comigo esta sede.
Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor.
Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo.
Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio – tão cansado, tão causado – qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho.
Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro.
Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor. O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós.
Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto.
E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios – que importa? (Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio – viria? virá? – e minto não, já não preciso.)
Preciso sim, preciso tanto.
Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis.
Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano.
Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra.
Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida.
Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão.
Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus.
Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei.
Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de ti, meu amor.
Para me salvar da lama movediça de mim mesmo.
Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar.
Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura.
Ah, imenso amor desconhecido.
Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo.
Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez.
Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã."

(Martha Medeiros/ Sapatos e Sapatas)

Me tornei mulher porque me tornei independente, antes de tudo.
Não sou de frescura e muito menos de compulsões consumistas.
Mas ainda tenho um lado mulherzinha: choro à beça, sou louca por flores, não vivo sem meus hidratantes, aprecio o cavalheirismo, gosto de ficar de mãos dadas no cinema, devoro revistas de moda, me interesso por decoração e fico chocada quando escuto expressões grosseiras.
Ah, e calço 36.

04/08/2009

Veneno do teu amor / Laisa Rosinski

"O que eu realmente precisava
era mais um copo de água pra beber
mais um pouco dessa alma
desemada e provar mais nada
deste veneno do teu amor."

02/08/2009

Aquilo menos tudo- Tati Bernardi

A gente abusa das mãos dadas no cinema, ainda mais quando chove ou faz frio.
O ombro dele é meu, o meu é dele, e tudo vai bem assim já há uns bons meses.
Ele faz coisas que eu curto, tipo não me deixar dirigir, enfiar o cartão na carteirinha de couro sem nem me deixar ver a conta e imitar minha compulsão pela minha franja.
Eu faço coisas que ele gosta, tipo carinho na perna, servir mais vinho quando o garçom some e ficar que nem monga alongando enquanto ele corre e paquera peruas acéfalas no parque.
E nada disso me enlouquece, considerando que tem semanas que ele some e eu nem mesmo percebo. Quer dizer, perceber eu percebo, mas não chego a sofrer por isso.
Talvez um pouquinho, mas um pouquinho eu já sofro só de fazer a troca de ar dentro das minhas narinas.
O fato é: nada até aqui é culpa ou desleixo ou abuso dele e isso possibilita nosso lindo e calmo relacionamento sem pau.
Algumas mulheres acreditam no sexo com o pau amigo, o homem limpinho que aparece de vez em quando só pra dar uma comidinha e tchau.
Eu acredito no sexo com o amigo sem pau.
O homem que aparece de vez em quando e te busca em casa, abre a porta do carro, elogia sua roupa, escolhe os melhores ingressos, faz você morrer de rir, conversa sobre tudo, dá conselhos, cuida de você, sobe com você até seu apartamento, curte um som, dorme de conchinha, te abraça forte e…vai embora.
Isso sim é dar uma, ao meu ver.
O trepar e jogar fora da mulher é se sentir amada sem ter que dar.
Pau nunca pode ser amigo, pense bem.
Experimente encontrar, sem querer, seu pau amigo num jantar romântico com uma mulher. Você não gosta do cara, não quer namorar o cara, ele é mala, burro, ele é só um pau.
Você só usa o cara e está super segura nesse papel.
Mas só porque você e ele, juntos, dividiram um pau, algo dentro de você, ainda que pequeno (pois é) quer ir até a mesa do fulano e fazer um escândalo: ahhhhhh me comeu e agora tá com outraaaaaaaa!
Como assiiiiiiim seu desgraçaaaadoooo! Se bobear dá até pra chorar de rímel borrado achando que é amor.
Mulher e pau não são compatíveis.
Homem é a melhor companhia do mundo, acreditem, mas o pau dele não.
Pau é a desgraça humana.
É o elemento descentralizador do controle da alma.
É o conflito personificado numa espada de guerra.
É o fim de tudo.
Pau amigo é coisa de sapatona.
Enfim, mas voltando ao meu melhor amigo.
Esse ser maravilhoso que mexe no meu cabelo, e paga tudo, e me elogia, e me abraça, e me aperta e vem aqui em casa sempre tão perfumado e tomamos vinho e falamos de tudo e...simplesmente não rola pau… ahhh... eu acho que vou matar esse idiota.