03/09/2008

Amor Epidérmico - Martha Medeiros

Por que levar a história adiante?
Melhor terminar tudo hoje mesmo.
Marca um encontro.
Ele chega no horário, você também.
Começam a conversar.
Você engata o assunto.
Para sua surpresa, ele ficou triste.
Não quer se separar de você.
E para provar, segura seu rosto com as duas mãos e tasca-lhe um beijo.
Danou-se.
Onde foram parar as teorias, os diálogos que você planejou, a decisão que parecia irrevogável?
Tomaram Doril.
Você agora está sob os efeitos do cheiro dele, está rendida ao gosto dele, está ligada a ele pela derme e epiderme.
A gravação do seu celular informa: seus neurônios estão fora da área de cobertura ou desligados.
Isso nunca aconteceu com você?
Reluto entre dar-lhe os parabéns ou os pêsames.
Por um lado, é ótimo ter controle absoluto de todas as suas ações e reações,
ter força suficiente para resistir ao próprio desejo.
Por outro lado, como é bom dar folga ao nosso raciocínio e deixar-se seduzir,
sem ficar calculando perdas e danos, apenas dando-se ao luxo de viver o seu dia de Pigmaleão.
A carne é fraca, mas você tem que ser forte, é o que recomendam todos. (...)
Se conseguir, bravo: terá as rédeas de seu destino na mão.
Mas se não der certo, console-se.
Criaturas que derretem-se, entregam-se,
consomem-se e não sabem negar-se costumam trazer um sorriso enigmático nos lábios.
Alguma recompensa há de ter.

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